O último momento


Quando desapareceu Francisco deixou uma carta escrita, a qual justificava o porquê da sua atitude…

“ No dia em que te conheci, ainda o meu mundo era diferente do teu, escutei-te com toda a atenção, motivando-te para uma circunstância que hoje poderia ter impossibilitado que uma história, entre nós, nascesse.
Meses mais tarde o destino voltou a juntar-nos tendo eu ficado sempre com a ideia de que serias uma pessoa que tinha vivido um amor atribulado e pouco correspondido, tal não era a forma apaixonada com que me tinhas falado dele.
Não hesitei um único instante e apaixonei-me pelo teu olhar “desprotegido” e, fazendo fé na postura confiante que vivia, resolvi “resgatar-te” desse teu momento complicado.
Sabia que iria viver uma grande caminhada no “teu” deserto mas senti que tinha as forças suficientes para viver alguns meses dando tudo o que podia sem pedir nada em troca.
Ouvi de tudo. Vi de tudo.
Desde a coisa mais inofensiva, que me pesou toneladas, à coisa mais “estapafúrdia” que me deitou por terra. Foram momentos difíceis que nunca teria acreditado que fossem possíveis de ser aguentados, se não tivesse passado mesmo por eles.
O dia em que realmente me senti teu namorado, ainda hoje não o sei. Ainda hoje vivo sem uma data que possa ditar o momento em que te elegi como a pessoa que comigo poderia dar um novo sentido à minha vida.
Os sentimentos são controversos…ainda para mais quando vivemos momentos em que sentimos que gostamos mais de uma pessoa do que aquilo que ela gosta de nós.
É nestas alturas que nos sentimos fortes e com vontade de carregar o mundo às costas.
Os meses foram passando, a estabilidade foi aparecendo e com eles novos quereres e vontades.
As diferenças, essas, sempre existiram mas, e porque há sempre um “mas”, em tempos primários quase nem tiveram expressão.
Como é normal, e como tu um dia me disseste, “a paixão acaba sempre por desaparecer” e com ela as diferenças ficaram cada vez mais acentuadas dando origem a discussões mais intensas e repetidas.
De uma forma ou de outra nunca senti que fosses uma pessoa que estivesse comigo a 100%, sentindo sempre uma ponta de desconfiança em certos momentos da “nossa” vida.
É triste quando estas situações se verificam. É marcante quando estas situações se arrastam sem que se consiga encontrar uma solução para elas.
Tentei sempre pôr-te como elemento principal da minha vida. Tentei sempre estar presente na tua vida e fazer-te sentir bem e aconchegada pela minha proximidade.
Procurei, ainda em tempo útil, realçar algum mal-estar pelo teu egoísmo que, embora faça parte da tua personalidade genuína, corroía a minha acção emocional.
Alguns desses momentos mais complexos foram ultrapassados mas, e porque as exigências evoluem à medida que outras vão sendo alcançadas, chego à conclusão que o problema não estava em nenhum de nós.
Na verdade aquilo que desejamos até pode ser o mesmo, simplesmente decidimos percorrer caminhos diferentes para tentar alcançar esses mesmos desejos.
Não encontrando motivos ou justificações para tão grande instabilidade resta-me optar pela alternativa que sempre foi a “última” para mim: Virar as costas aos problemas e desaparecer.
Para trás deixarei sorrisos, lugares, cheiros, algumas tristezas, palavras soltas e, já, saudades.
Talvez no futuro eu encontre a compreensão que no passado não existiu.
Talvez no futuro eu perceba o quanto estava certo, ou errado.
Talvez um dia eu me arrependa daquilo que hoje faço…
Mas se nunca o tentar nunca vou poder ter a oportunidade de me arrepender no futuro…
A vida, por mais que seja complicada de se viver, prende-se, pode vezes, em coisas que seriam fáceis de ser ultrapassadas se fossemos mais sinceros connosco próprios…
Numa tentativa de dar alguma sinceridade ao meu ser e à minha própria vida resolvi partir em busca do desconhecido com um simples, e pequeno, objectivo na mala…

“Tentar Ser Feliz…”
     
Até um dia…”

Até hoje Francisco nunca mais foi visto nos sítios que outrora elegera como seus, talvez de forma a não cair no erro de tentar ser feliz, uma segunda vez, no local onde já o tinha sido numa primeira...

E fez bem…


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