Desabafo Incerto


Estou prestes a ser Pai!

É uma responsabilidade enorme, para pouco mais de 1/4 de século que tenho.

Não me preocupa o que tenho de trabalhar.
Não me preocupa o que tenho de aprender.
Preocupa-me, sim (!), o sítio onde escolhi ser Pai.

Não encontro um caminho ambicioso pela frente.
Não vejo, nem reconheço, capacidades suficientes a quem nos governa, para que eu possa prometer ao meu filho tudo aquilo a que uma criança inocente tem direito.

O país está preguiçoso. Tão preguiçoso quanto a pouca vontade que tenho de colocar parágrafos, vírgulas ou qualquer outra pontuação neste texto.

As pessoas não querem, não ambicionam, nem fazem questão de alterar o estado actual das coisas.

Os mais abastados compram pela metade, a quem o aperto das dívidas obrigou a desfazer-se de tudo. Os mais pobres lamentam-se, e com razão, mas também se encostam à situação do momento catastrófico que vivem, para se sentirem os mais infelizes do mundo.

A classe média tenta aprender a sobreviver, sem que à tona de agua se consiga manter por muito mais tempo.

As empresas exigem mais do que nunca, pagam mal e ameaçam com a porta de saída, quando não se vislumbra a ambição do funcionário.

Esta crise não nos permitiu, nem permitirá, aprender com os erros.
Esta crise serve apenas para que aqueles que quase nada tinham, ficassem mesmo (!) sem nada.

Serve para que aqueles que ainda tinham alguma disponibilidade, passassem a interiorizar que nada têm.
Serve para que quem manda retire o resto do sangue daqueles que ainda têm trabalho.

Espanta-me o facto de as pessoas se deixarem levar por aquilo que a oposição política diz.
A memória é cada vez mais curta e o sabor das palavras, de quem diz aquilo que queremos ouvir, soa a arpões do paraíso.

As nossas estações de televisão envenenam a nossa mente, os jornais escrevem mentiras e alguns políticos aproveitam-se da nossa fragilidade.

Deixámos de ser um povo exigente, para passarmos a ser simples bonecos que sorriem quando nos deixam.

Não conseguimos perceber que estão a fazer de nós tudo aquilo que querem.
Fingimos que concordamos com os partidos de esquerda, mas achamos inconcebível que o PCP e o BE formem governo.

Criticamos o PSD e piscamos o olho ao PS, mas apupamo-los de viva voz, caso o governo mude.
Mesmo que seja eleito pelos nossos próprios votos.

Digam-me: alguém tem paciência para ler isto?

Alguém ainda tem paciência para ler as lamúrias do vizinho, quando nós próprios passamos os dias a lamuriar sobre tudo aquilo que está mal na nossa vida?

Apoiamos as greves, defendemos os professores, queremos o Vítor Gaspar na Rua!

Gostamos de ouvir o António José Seguro dizer aquilo que nós sabemos, ainda assim, que é mentira.

Achamos o Jerónimo de Sousa parecido com o nosso avô e por isso até simpatizamos com ele.

Rimos das barbaridades bicéfalas do BE e até somos capazes de os convidar para uma festa de "open mind".

Fazemos do nosso país um circo que nunca levanta a tenda. Passamos 365 dias a actuar num misto de mentiras, corrupção e roubos financeiros.

Ouvimos o Professor Marcelo, o Engenheiro Sócrates e outros tantos e continuamos a fingir que não sabemos o que é o Big Brother.

Vendemos cavalo em vez de vaca, comemos peixe-caracol em vez de bacalhau e não queremos saber.

Queremos, sim, que o Governo caia.
Que o Governo Mude.
Que o Governo deixe de ser governo.

Queremos ter direito a tudo sem que tenhamos o dever de fazer algo por isso.
Queremos não pagar nada e gastar, sempre, o dobro daquilo que recebemos.
Queremos ter trabalho, dinheiro, educação, saúde e grandes viagens, mas continuamos a acreditar que basta ir a Fátima pedir, para que tudo aconteça, enquanto ficamos sentados à espera.

Estou prestes a ser pai.

Nunca soube o que era a fome, não ter dinheiro ou bens de 1ª necessidade.

Sou um privilegiado.

Falo, queixo-me e reivindico, mas não tenho a mínima noção do que é o sofrimento.

Mas tenho respeito! Respeito pelo o futuro incerto.

Tenho medo do que nos espera.

Vivo com um pensamento constante no que me poderá acontecer amanhã.

Sei, e tenho quase a firme certeza, que nunca conseguirei dar a um filho meu, aquilo que os meus pais me deram.

De quem é a culpa? Pouco me importa.

O que eu quero é que isto se resolva e depressa!

Tenho medo do futuro.
Tenho medo deste país.

Mas uma coisa é certa: nada vai mudar. Eu sei que não Vai!

A não ser que eu ensine ao meu filho o hino de outra bandeira!

ARRE POVO QUE JÁ NÃO TE ENTENDO!

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