Terras Planas


Manuel era um rapaz complicado.

Lidar com ele não era algo que se afigurasse fácil.
Nem sempre se sabia se ele estava num dos seus dias alegres e felizes ou se, à mínima coisa, estava nos seus dias cinzentos e insuportáveis.

Pessoa capaz de coisas incríveis, muitas delas que nunca conseguiu concretizar, Manuel tinha sonhos de menino.

A figura do pai era algo que o marcava profundamente.
Era nele que se revia e sentia que um dia era assim que queria ser.

Não que isso significasse muita coisa para os que estavam à sua volta, mas para ele era um exemplo de vida.

Nada melhor do que sentir orgulho de alguém e tentar “ superá-lo” nos seus princípios e na sua conduta de vida.

Manuel, nunca foi uma pessoa de sonhos inesgotáveis mas fazia de alguns metas constantes que eram imperativamente importantes para a construção do seu “castelo”.

Homem de palavra e de fortes convicções, cedo demonstrou o que queria e aquilo que ansiava para o seu futuro.

Nunca foi o melhor entre os seus colegas de escola.
Não porque não fosse capaz mas porque aquilo nunca tinha sido uma coisa feita à sua medida.

Por certo que concluiu os estudo e orgulhou a família que o viu crescer….mas ele queria mais…

Lembro-me de ouvi-lo sonhar em voz alta, quando me dizia que um dia era em terras planas do Alentejo que gostava de viver.

Raízes Familiares? Talvez!

Com ele sempre viveram as recordações das grandes férias de verão que passava em casa da sua Avó Maria.

Ele soube o que era plantar legumes, colher frutos e recolher os ovos de galinha logo pela manhã.

Sonhos de menino? Acredito que sim.

Por vezes dizia-me que sonhava em constituir uma família relativamente grande capaz de gerar alegria pela casa.

Cheguei a vê-lo emocionar-se ao falar disto.

O seu lado profundo sempre esteve escondido atrás daquele ar sério que "cultivou" desde pequeno.

Certo dia, sentados num café dizia-me que adoraria ser um daqueles senhores respeitados de uma vila ou cidade do interior alentejano, que através do seu suor e do seu trabalho, não só construíra um império como ajudara outros a criá-lo também.

Ria-me com ele quando me dizia que aquele gesto educado e formal que, ainda hoje, muitos fazem ao passar alguém que merece consideração, era aquilo que ele mais queria.

Sentir o respeito por parte das pessoas, face à sua conduta social e perceber que se é útil no meio onde se está inserido, sem dúvida que eram coisas que ele desejava.

Vejo-o num monte alentejano, onde desde a sua entrada até as portas de casa o campo era uma imensa e cuidada vinha.

Na garagem tinha o seu mítico Range Rover verde que sempre adorou e, cá fora, brincava com as crianças e contemplava, junto da sua mulher, a dádiva que Deus lhes teria dado, ao poderem ser parte integrante de um “quadro” de felicidade.

As raízes familiares sempre fizeram dele uma pessoa muito chegada à família, e aos amigos, e por isso tinha a sua casa sempre cheia e a mesa sempre composta.

Adorava dar longos passeios pelo campo e não dispensava o seu desporto de infância que, outrora, o pai lhe teria ensinado…caça e tiro desportivo.

Manuel era assim…

Há tempos encontrei-o num daqueles jantares de velhos amigos que o mesmo sempre gostou de organizar…

Dizia-me ele, a certa altura, que “ nunca é tarde demais para se sonhar nem perder o principal objectivo da vida…ser feliz”.

Palavras sábias caro Manuel…

Um dia quero um sonho assim…



Comentários

Mensagens populares deste blogue

A.M.O.R

Post Instagramado