Vida ou Dignidade?

Por mais que não queira, a interrupção voluntária da gravidez domina-me o pensamento.
Acredito que ao decidir escrever sobre isto posso chocar algumas pessoas, mas a verdade é que todos temos de ter uma opinião. Não nos podemos esconder!

Hoje decidi contar-vos uma história na qual são personagens dois jovens.

Luís e Alice, um casal de namorados.

Namoravam há cerca de 2 anos e pouco, quando tudo aconteceu.

Numa tarde de Inverno, Luís recebe uma chamada no seu telemóvel e do outro lado Alice chora tentando construir uma simples frase…” Luís, …eu… estou…grávida!”.

Acreditam que Luís sorriu? Numa imensidão de pensamentos, Luís viu o mundo passar à frente dos seus olhos e vê nascer um novo horizonte.

Naquele momento as coisas tinham de ser alteradas.
Luís sentiu uma responsabilidade a entrar dentro de si e resolveu ir rapidamente ter com Alice.
À chegada a casa dela Luís enfrentou a realidade…os olhos repletos de lágrimas por parte de Alice…o ar devastado da Mãe…e o espanto natural de um Pai!

Luís, naquela situação voltou a sorrir, caminhou para junto de Alice e disse-lhe simplesmente…” Porque estás a chorar?” – Alice descansou…

Naquela situação nada havia a fazer, se não tentar encontrar em si próprio uma serenidade total, de forma a que os outros vissem que existia uma outra forma de ver as coisas.

Teria realmente Luís a noção daquilo que iria acontecer? Na verdade ele não tinha!
No final de contas, ele nunca tinha passado por uma coisa daquelas…

Os dias passaram e com eles a vontade de Alice em deixar a gravidez evoluir…Existia amor entre eles? Penso que sim…só eles sabem as coisas que até então já tinham ultrapassado!

Luís, por seu lado, está completamente baralhado…

Ao olhar à sua volta, não via autonomia financeira para encarar um situação destas, embora os seus pais sempre tenham estado ao seu lado durante toda esta problemática.

Luís pensou, pensou muito e tomou um decisão! Era necessário que esta gravidez não fosse para a frente!

Porquê precipitar as coisas? Porquê obrigar dois jovens sem bases a assumir uma situação que, ainda que desejada, não se tinha verificado no momento certo?

Luís olhou para si próprio e fez a pergunta várias vezes…durante horas… acreditam que ele chegou a pôr tudo em causa e quis deixar que tudo decorresse dentro do normal?

Foi assim durante alguns dias, mesmo que não o tenha dito a ninguém.

Um dia foi necessário tomar uma decisão…Luís saiu de casa, rumo nem ele sabia bem ao quê e parou junto a uma praia… sentou-se no muro que deixava avistar o mar longínquo e pensou em tudo…

Pensou nas bases familiares que tinha, na educação que tinha recebido dos seus pais, nos valores que estes lhe passaram…e chegou a uma conclusão: “Por mais que este seja um sonho de uma vida, nunca poderei permitir que venha ao mundo uma criança que não irá encontrar aquilo que, pelo menos, os meus pais me deram” – Terá sido egoísta? Não seriam os pais de cada um deles capazes de proporcionar isso tudo?

Luís pensou que sim…mas não seria o que ele tinha imaginado para a sua vida…
E assim foi… A partir daquele dia Luís começou a tentar conversar com Alice sobre o assunto e ,juntos, depois de várias discussões, decidiram aquilo que iria ser feito.

Acredito que esta história não tenha os contornos mais realistas da "coisa", uma vez que conto esta história na versão do Luís…na visão dele… estou certo que a história contada na versão de Alice seria e será muito mais real e profunda…

Chegados ao local…uma clínica em Espanha, tudo era como se em Portugal estivessem…os Termos de Responsabilidade, o “portunhol” das pessoas que atendiam, e pior que isso…as cadeiras da sala de espera só tinham portugueses!

Naquela altura Luís pensou…”Ridículo! Somos um país de terceiro mundo!”
Na sala estavam pessoas de todas as faixas etárias…todas elas para a mesma coisa. Umas mais constrangidas que outras, todas elas com semblantes carregados e cinzentos.

Quantas estariam ali sem os pais, maridos ou namorados saberem? Muitas, sem dúvida! Em abono da verdade, também deve ser dito que muitos casais lá estavam…

Seguia-se então a parte principal…Anestesia? Sim? Não? Local ou Geral? Alice escolheu geral…
Luís, naquela altura, entendeu-a na perfeição…Ninguém quer poder recordar para a vida aquela situação…

Depois de cerca de duas horas de espera Alice foi chamada… uma enfermeira acompanhou-a e ela lá foi…

Sabem quanto tempo demora a fazer um aborto? Uns 7 minutos… no caso dela acabou por demorar mais por causa da anestesia geral.

Passados 40 minutos, que mais pareciam 40 horas, Alice volta… pálida…

Ambos, acompanhados da Mãe de Alice, foram levados para uma sala onde se encontrava a Médica de serviço…seguia-se o pagamento!

Notas para o lado de lá da secretária e pronto, está feito! Nada de recibos, nem de declarações médicas…

Luís ficou estupefacto…nunca tinha visto nada assim! Parecia que tinham ido beber um café a Espanha e tinham voltado horas depois.

Sabem qual é o meu julgamento em relação a toda esta história?

Aborto SIM…pela dignidade de todos aqueles que se têm de dirigir a sítios que nada têm a ver com aqueles onde Alice foi!

Quem tem dinheiro, tem, a alguns quilómetros de distância, a possibilidade de o fazer e até mesmo no anonimato…quem não o tem, faz “num vão de escada” correndo o risco de ter graves e sérios problemas de saúde, para o resto da vida.

Sim à vida, mas com Dignidade!
Sim à vida, mas com a vontade dos intervenientes!
Sim à vida, mas com estabilidade e maturidade!
Sim à vida…da mulher, Sempre!

Um dia, leiam as contra-indicações que se assinam, aquando de uma interrupção voluntária de gravidez, e depois digam-me se TEMOS NÓS o direito de pôr em risco a vida de mulheres, que, por este país de terceiro mundo, continuam, em pleno século XXI, a fugir de tudo e todos!

Quem diz não ao aborto, também lhe pode dizer "não" com ele liberalizado!
Quem tiver de o fazer, quem o quiser fazer, FAZ!
Quem não o aceitar…mesmo com ele liberalizado, NÃO FAZ!
Pelo SIM!



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